sexta-feira, 15 de maio de 2009

Have you ever been hit by a car?

Você já foi atropelado? Eu já.

Pra quem foi, de maneira semelhante à que fui, creio que a descrição irá relembrar bem os momentos.

No caso do meu atropelamento, as coisas aconteceram deveras rápido para que pudesse sequer notar antecipadamente o que estava por vir. Eu estava tranquilo, atravessando a rua. Olhando para o outro lado. De repente, um barulho. Você já percebeu como as coisas parecem passar devagar enquanto você está caindo? Depois do choque inicial com o carro que me jogou para cima foi assim. E uma incrível sensação, que deve ser angustiante para a maioria das pessoas, da perda completa de solidez. O que você tinha por sólido, estável, o seu apoio, o chão, de repente está azul e cheio de nuvens, e o céu que estava límpido agora está acinzentado. Acho que foi a primeira vez que eu consegui sentir o pensamento de um filósofo - "tudo o que é sólido desmancha no ar". Você nunca acha que vai ser atropelado. Você nunca acha que o asfalto pode perder a firmeza de repente. E quando você assusta e menos espera, lá está você, com as pernas bambas balançando e o seu mundo, literalmente, "de pernas pro ar". E ainda dá tempo de você proteger a cabeça instintivamente, e pensar "puta que pariu, fodeu, fui atropelado".


O atropelamento já faz muito tempo. Fora algumas leves escoriações, e um andar meio mancado por uns 2 meses, não houve danos maiores nem complicações. Porém, como toda experiência marcante, ela fica gravada de maneira incrivelmente real na memória.


E então vem a parte esquisita. Porque você percebe que na verdade, não são apenas carros que podem te atropelar. E as coisas na vida parecem ter uma tendência ao flashback. Estava eu, tranqüilo, novamente. Quando eu não estava mais esperando, veio algo e me acertou. Exatamente como antes. Algo que eu não consegui prever, algo que eu não esperava, algo que quando me acertou eu não sabia o que era(ainda não estou certo até agora).

E então, como num mero replay daquela cena, eu me vejo de pernas para o ar. Desarmado. Sem ação. Sem controle da situação. O que eu acredita que estava certo, definido, sob controle, se tornou etéreo. Meu chão se tornou o céu novamente. Porém, ainda não tive tempo de cair. Diariamente, o que quer que seja bate novamente em mim, e tudo que eu consigo sentir é a sensação incrível de estar flutuando. A vida parece uma montanha-russa - eu não tenho controle sobre o que vai acontecer em breve, porém eu sinto que vou gostar. E eu estou flutuando todos os dias, pois não tenho tempo de cair.


Este texto é para o caminhão que me atropela todos os dias, ou para o sopro que me faz ficar aéreo mais um dia. Eu estou flutuando, completamente aéreo. Minha está ficando de pernas para o ar. E estou adorando. Aesar da mudança brusca de vários aspectos na minha vida, estou gostando de ver o mundo de cabeça pra baixo. E acima de tudo, estou adorando poder voar. Você me faz voar, e consegue transformar um dia cinzento de asfalto num dia colorido de céu aberto.

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